domingo, 12 de fevereiro de 2012

It's about time...

Bom, acho que já tá na hora de colocar essa coisa pra funcionar de novo...

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Cannabis Nativa, o mito


Corria o ano de 1991. Com 18 anos, eu tinha acabado de voltar de São Paulo e terminado o verão, eu não tinha idéia do que faria da minha vida aqui na terrinha. Foi de repente, não mais que de repente que um belo dia, Barbara, uma amiga me conectou com esse cara que tinha uma banda e precisava de um guitarrista, pois, o deles tinha zarpado pra Brasília. O cara em questão era o Tadeu e a banda era a Cannabis Nativa.

Minha primeira conversa com Tadeu foi bastante pragmática. Eles tinham um show marcado para aquele final de semana em Santo André e isso significava que caso eu aceitasse, teríamos apenas um ensaio antes da minha estréia como guitarrista fixo numa banda de verdade. Aceitei sem pestanejar. Tirei o mofo da minha guitarra que estava encostada por falta de quórum e troquei as cordas.

O ensaio, no balcão do Souzinha, pai do saudoso Neco, nosso eterno batera, ocorreu de forma surpreendentemente simples. Por sorte, eu havia passado os últimos anos escutando muito rock nacional dos anos 80 assim como meus companheiros de banda:

- Você sabe tocar “Dias de Luta” do Ira!? Perguntava o Nito.

- Claro. Dizia eu.

Então a gente tocava pra ver.

- “Diversão do” Titãs?

- Deixa eu lembrar do riff...

Assim, musica por musica, construímos o set list para o show...

Não tenho certeza, mas acho que fomos de Porto pra Cabrália na lendária Rural do Seu Neilton. Durante o translado e a espera pela balsa, a gente foi se conhecendo melhor, trocando idéias, contando piadas e tal. Eu estava bastante nervoso, mas não em pânico. Dividimos o palco com outra banda naquela noite de sábado. Não me lembro do nome. Eles eram bem mais experientes e tocavam classic rock. Foi bem bacana aquele primeiro show. Além da alegria de tocar, percebi imediatamente como essa história deque tocar numa banda abre portas, era verdade, se é que vocês me entendem. Mas a coisa ainda ficaria melhor, muito melhor...

Nosso terceiro show com a “formação clássica” da banda foi no Mistura Fina, na rua do mangue, quando este ainda era um lugar bem menor do que o de hoje em dia. Mesmo sendo um lugar relativamente pequeno, era perfeito pra tocar. Havia alguma coisa no ar. Um clima de alto astral e festa que quase sempre nos acompanharia pelos próximos 2 ou 3 anos. Antes do show, tomando uma cerveja, Tadeu e eu conversávamos e pintou o papo de que a gente deveria se soltar mais no palco. A gente ficava meio paradão tocando enquanto a galera agitava. Caramba, nós éramos parte da festa. Então fazia sentido a gente agitar também. Afinal de contas, a Cannabis não era uma bandinha de baile. Tocávamos por prazer, para amigos e quem mais aparecesse.

Além de ter sido um marco por causa da nossa nova postura com o publico, esse show ficou marcado por um episodio que ajudaria a tornar a banda, modéstia a parte, uma lenda...
Lá pelo meio do show, um cidadão apareceu reclamando do som e querendo parar com tudo. Trazia com ele uns 5 PMs afirmando que o bar não tinha alvará pra funcionar. Nós paramos de tocar e foram o vizinho, o dono do bar e os PMs pra o fundo do bar. Confirmado a existência de alvará de funcionamento selou-se o acordo de que o show poderia continuar mas não poderia passar das 3 da matina.

Acho que foi por causa da adrenalina provocada pelo ultraje de ter de interromper a melhor festa da qual eu havia participado até então, ocorreu-me a brilhante idéia de tocar “Polícia” dos Titãs enquanto os policiais se retiravam do bar. Tadeu e Nito acharam uma péssima idéia e então tocamos “Veraneio Vascaína”, do Capital Inicial. A temática era a mesma, mas a letra não era tão óbvia. Acontece que começamos a tocar e eles continuaram conversando lá atrás. Terminando a musica, eu puxei o riff de “Polícia” e o resto da banda acompanhou. Imaginem a cena: Os PMs se retirando, passando entre nós é a galera que cantava a plenos pulmões o refrão “polícia para que precisa, polícia para quem precisa de polícia”... Os soldados aparentemente não conheciam a musica... mas o Mistura Fina quase veio abaixo com o publico em delírio. Às 3 da manhã, encerramos o show, todos os presentes com a alma lavada.

Nós já tínhamos um show marcado para o sábado seguinte numa barraca de praia chamada 4 Ventos (acho eu) que ficava logo depois do Barramares para quem ia em direção a Cabrália. Como sempre, fomos para o local de tarde pra montar o equipamento e passar o som. Voltamos para a cidade para tomar banho e fazer a “concentração” que consistia em tomar umas “brejas”, conversar e às vezes montar o set list. Quando chegávamos perto do local do show, pegamos um trafego meio pesado e imaginávamos que haveria alguma coisa no Barramares também aquela noite. Minutos depois passamos pelo por um Barramares às escuras. Eram mais ou menos 10:00 da noite e aquele transito, para nossa completa surpresa, foi provocado pelo evento mais concorrido daquela noite em Porto Seguro, o show da Cannabis Nativa.

Eu não posso afirmar. Eu não tenho certeza. Mas acho que a historia daquele show no Mistura Fina correu a cidade durante a semana. A primeira banda de rock de Porto Seguro se fez notar a partir daquele show no 4 Ventos, nos 2 anos seguintes tocamos para casas sempre cheias e com um altíssimo astral. Fizemos história, influenciando uma geração inteira, divulgando bandas novas, “educando” o povo com de nossas covers de bandas nacionais e gringas, incentivando a formação de novos músicos, etc. O sucesso de antigos fãs da banda não me deixa mentir. Que saudade!!!

terça-feira, 16 de março de 2010

Musica para ouvir


Sabe aquela levadinha de violão característica da boa “musica para acampamentos”? Sabe aquela melodia que fica um tempo sem sair da sua cabeça e que você acaba até assobiando distraidamente enquanto chuta latinhas na volta pra casa? Se você curte musicas como Wish You Were Here do Pink Floyd, I Still Haven’t Found What I’m Looking For do U2 ou boa parte do repertorio da Legião Urbana – só pra citar uns poucos – lá no fundo você é fã de country music. Eu não estou falando dessa coisa hedionda, de gosto duvidoso, muito popular entre os que não gostam de música. Falo da musica de verdade, feita por gente de verdade, gente dotada de grande sensibilidade e talento para criar melodias que tocam o coração e letras que projetam um filme na sua cabeça. Sem aditivos, corantes ou conservantes.

Musica country e blues são a mãe o pai e do rock. E o rock anda tão chato ultimamente que pra quem já ouviu de tudo a melhor saída é procurar por novidades no museu. Alguém aí disse Cazuza? Assim como uma coisa leva a outra, uma banda leva a outra. Quais bandas fizeram a cabeça de Kurt Cobain? Qual é o musico predileto de Eric Clapton? Quem é esse tal de Lou Reed? Quando você descobre, seu leque de opções aumenta consideravelmente e a curiosidade mantém a chama acesa.

O negócio é que estamos naquela fase do ciclo em que o mercado tá saturado de bandas derivadas dos “real things” e o executivos ficam preguiçosamente curtindo o momento e faturando enquanto a arte morre um pouco a cada acorde de guitarra emo ou rebolada das Beyoncés da vida. Quando isso acontece, sempre surge um grupo de pessoas idealistas que andam na direção oposta, nadando contra a corrente e contra o bom senso (caso dinheiro seja um problema ou o objetivo). São pessoas como essas que tomaram o mundo de assalto a partir de cenas como as de Manchester e Seattle na virada dos anos 80 e 90. O R.E.M., por exemplo, não estourou da noite para o dia. Eles conseguiram o sucesso depois de ralar muito nesse circuito underground e chegaram lá mantendo intacta sua integridade artística. A explosão do rock alternativo nos anos 90 foi o resultado de um movimento que começou no início dos 80 e foi crescendo no underground dos States até atingir a superfície e chutar Michael Jackson do topo das paradas.

O movimento alt-country surgiu no começo dos anos 00. Wilco, Ryan Adams, Avett Brothers, Ray LaMontagne, Iron & Wine e Gillian Welch são alguns dos artistas que estão liderando um movimento de retorno às raízes em favor de uma musica menos produzida em estúdio e com ares de artesanato no que diz respeito á composição.

Você provavelmente acha que nunca ouviu nenhum desses nomes. Pode ser, mas...

Iron& Wine já apareceu em trilhas sonoras de filmes como Hora de voltar, Crepúsculo, Não Estou Lá e em seriados com The O.C., House, Scrubs.

Gillian Welch aparece na trilha sonora de Cadê Você, Meu Irmão – dos Irmãos Coen.

O último disco do Avett Brothers – I and Love and You - foi produzido Rick Rubin, que já trabalhou com os Beastie Boys, Slayer, Red Hot Chili Peppers, Metallica e com a série American Recordings do Johnny Cash.

Ryan Adams teve exposição na MTV na época do álbum Rock N Roll com o clip de So Alive.

Se você é um desses que morre de tédio com a cena atual e não sabe onde procurar, aqui vão duas sugestões: O álbum Emotionalism do Avett Brothers de 2007 é sem dúvida um dos melhores gravados na última década. Um clássico que não atingiu o grande publico porque as paradas estavam congestionadas com emoções baratas. Soul Jorney, o último lançado por Gillian Welch e seu parceiro Dave Rawlings, também é obrigatório. No CD e ao vivo, geralmente apenas suas vozes e seus violões. Assim como os Avett Brothers, eles têm o publico na palma da mão porque há muita gente por aí procurando por emoções mais reais, mais orgânicas e é exatamente isso que eles tem pra oferecer. E tenho dito....

O "X" da questão


Existem verdades que você julga universais e infalíveis até que um acontecimento inusitado, inesperado te tira do marasmo dos dias iguais e muda a sua visão de mundo para sempre.

Corria o ano de 2001 e, fazia pouco tempo, eu havia me tornado professor de inglês, profissão que ainda exerço com orgulho e alegria. Morava em Vila Velha e trabalhava no CCAA em Vitória do Espírito Santo. Certo dia, num intervalo entre uma aula e outra, com fome decidi comer um hambúrguer num trailer próximo à escola. Sentei-me numa daquelas cadeiras de plástico e o garçom prontamente veio para anotar meu pedido: Um x-bacon e uma Coca. Folheava distraidamente a revista acabara de comprar na banca enquanto esperava. A fome, apertava.

Não demorou muito o garçom trouxe o x-bacon o qual imediatamente comecei a devorar como se não houvesse amanhã. Já havia destruído um terço do x-bacon quando notei que tava faltando o queijo. Chamei o garçom e disse:

-Olha. Não tô nem reclamando nem vou pedir pra trocar o sanduiche, mas dá um toque no cara da chapa porque ele se esqueceu de colocar queijo no meu x-bacon.

- Senhor, vou verificar pois não tenho certeza. Acho que o x-bacon não leva queijo. Vou pegar o cardápio pra conferir. Disse o solícito garçom.

Ele trouxe o cardápio e, para minha surpresa lia-se:

X-Bacon – Pão, hambúrguer, bacon, tomate e alface.

Ainda tentando entender o que se passava - eu me sentia como um personagem de um livro de Kafka – perguntei ao distinto cidadão:

- Você sabe o que significa o X do x-bacon?

-Não. Ele respondeu.

- O X significa queijo.

- Como assim?

- A letra X soa como a palavra cheese, queijo em inglês. No começo só existiam os hamburgers e os cheeseburgers. Então algum dono de restaurante muito esperto, ao escrever o cardápio, para encurtar, substituiu o cheese pelo X. Então o x-bacon nada mais é do que um hamburguer acrescido de queijo e bacon.

- E como você sabe de tudo isso? Perguntou o garçom desconfiado.

- Bom, eu sempre soube disso, desde criança. Se você não acredita, devo acrescentar que sou professor de inglês e posso te garantir que todos os meus alunos sabem que X significa cheese.

- Se você está dizendo...

Terminei meu “x-bacon” e minha Coca e voltei pra escola ainda sem acreditar no que havia acabado de acontecer. Pensava: - Isso não pode estar acontecendo! Isso deve ser pegadinha de algum programa de TV. Mal sabia que a história estava apenas começando.

Chegando à escola comecei a aula contando o ocorrido. Para minha surpresa, ao terminar a história metade dos alunos na sala ficou me olhando como se não tivesse entendido uma palavra do que eu havia acabado de contar. Expliquei novamente, todos entenderam, ficaram maravilhados com a “novidade” e foram pra casa felizes com o que haviam aprendido. Desde então, sempre que tenho a oportunidade, eu conto esta história para meus alunos novos.

Passados alguns meses, minha família e eu voltamos para Porto Seguro, cidade que eu e minha esposa havíamos deixado para viver nos Estados Unidos anos atrás. Já dava aula na Escola Mundai quando comecei a formar minhas primeiras turmas para aulas particulares. Certa noite, contei a história do x-bacon para um grupo de novos alunos e um rapaz em especial pareceu muito impressionado. Disse que jamais poderia imaginar que “X” substituía a palavra cheese no x-burguer e afins e que estava ansioso para contar o que havia aprendido quando chegasse em casa. Ele contou a história para sua família na noite seguinte, durante o jantar. Seu pai, um homem de certa cultura e conhecimento básico de inglês, achou incrível tudo que o filho acabara de contar.

Algumas semanas se passaram e antes do começo da aula meu aluno contou que uma noite, voltando do trabalho, resolveu dar uma passada na locadora pra alugar um DVD e encontrou, por acaso, seu pai escolhendo um filme pra levar pra casa. Quando o pai viu o filho, mostrou com satisfação o DVD que iria assistir naquela noite: X-Men.

- Olha meu filho. Homens-Queijo!!! Homens-Queijo, meu filho!!!